O Homem Alado


Estava ele sentado sob as esculturas da Praça Ramos. Com a mão no queixo, olhava o Anhangabaú e meditava. Suas asas muito brancas, recolhidas, estavam quietas. Eu passava lá todo o dia, e, lá estava ele na mesma posição. Depois de algum tempo, me aproximei, e ele continuou como uma escultura que respirava. Acabou virando um costume meu ir ver o Homem Alado todo o dia depois do trabalho. Me perguntava se as outras pessoas que circulavam lá também o viam, mas tinha receio de perguntar a alguém, podiam achar que eu delirava. Mas depois isso deixou de ter importância. Era importante que eu o visse.
Como ele permanecesse do mesmo jeito durante meses, olhando para o mesmo ponto fixo, acabei me acostumando com a cor de seus cabelos e a sua mão sempre no queixo.
Um dia, eu sentei do seu lado para poder ver o que ele via. Ele se virou para mim e falou:
"Estou cansado".
Como eu olhasse pela primeira vez em seus olhos, fiquei comovida por ele interromper sua meditação para falar comigo.
"O que você quer?"
"Quero dormir."
Coloquei-o então dentro de minha bolsa, e carreguei-o para minha casa. Deitei-o em minha cama. Ele está lá até hoje, a dormir.

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