
Minha porta está fechada, não estou. Me tranco em meu quarto e ele flutua, isolado em um mundo que não existe. Fico só, admirando minhas fotos e meu passado.
Trancada em meu quarto, ele passeia por florestas, desertos, montanhas, bosques. Evito olhar para fora da janela.
Em meu quarto, a chave da porta é uma senha para o esquecimento da realidade, que me machuca e me faz chorar. Abro minha caixa de fotografias, fico me lembrando de como eu era feliz, e de como o leite derramado não me fazia falta. Anseio por esse vôo todas as manhãs, quando irei sentar em minhas almofadas fofas e sentir a brisa que vem de fora. Se o meu quarto não voasse, minha vida não teria sentido. A chave de meu quarto é a razão de meu viver.
Quero ser engenheira, e fabricar um Aeroporto de Quartos, e, talvez, fazer voá-los por toda a eternidade, sem pousar. O meu Aeroporto de Quartos terá a mais alta tecnologia, e serão abastecidos de gasolina todas as manhãs, antes de acordar, por frentistas vestidos de branco, com asas de gelo. Não farão barulho, não se sentirá a presença deles. Irão fazer os quartos todo o dia felizes.
Eu sei que vou conseguir, pois a tecnologia existe para isso. Minha chave ficará em meu pescoço, presa, esperando que eu possa abrir a minha porta de noite para beber água num riacho. Então, verei minhas contas, como o meu negócio é próspero, farei o meu papel de chefe e xingarei os frentistas que insistem em fazer barulho. Subirei em meu quarto, esperando que minhas descidas sejam abreviadas cada vez mais. Dormirei, fechando a janela o mais hermético possível para naum ver o que se passa lá fora.
(isso é um relembrando. já escrevi esta postagem em "contos", em 1° de novembro de 2005.)
Um comentário:
Onde fica esse espaço privado depois de um tempo, não?
Morar sozinho (ou casado) é tornar a casa o espaço privado... lembrei de quando me trancava no quarto pra ouvir música, esquecer da vida... hj talvez a porta da frente do apto. seja a divisão com o mundo lá fora. Bjs pra vc.
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