
Constuamos muros.
Para não ver o sangue que rola além deles, para nos tronarmos limpos. Para não ver a tristeza e a feiúra, a loucura e a desgraça. Esqueçamos o Líbano. Esqueçamos Rondônia. Desfilemos por nossos corredores, limpos, honestos e amorosos. Desfilemos com as mais belas roupas, louvando a nossa civilização. Louvemos a Lei, como coisa que sempre é justa, dentro de nossos muros. Esqueçamos dos açougues que estão do outro lado. Comamos a carne que vêm deles, mas, esqueçamos que matamos para sobreviver, esqueçamos que às vezes nossas roupas são fabricadas por escravos. E, quando nossos muros derem no mar, ouçamos apenas o barulho das ondas e não do sangue que habita os oceanos.
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