Nadando


Estamos todos em alto mar. Estamos aqui por causa de nós mesmos. Tédio, fracasso, solidão.
A gente tem medo de se afogar, e, quando pressentimos que isso vai acontecer, juntamo-nos em frenesi desesperado. Aí um tenta afogar o outro. A gente quer sobreviver, apesar da vida sem graça. Uns têm pouco fôlego, se afogam. Quem sobra se agarra aos corpos mortos, e bóia com eles, até que eles se deteriorem.
Eu aprendi a sobreviver deste jeito e é assim que vou levando.
Diz-se que, quando estamos neste desespero, navios passam além e a gente não vê. Não sei se é verdade. Quem me contou isso foi uma das pessoas que bóiam longe da gente. São poucas. Elas parecem que nunca entram em desespero como nós, mas também não têm forças para alcançar navio algum, se estes realmente existem. Acho que os braços e pernas deles atrofiaram.
Num destes momentos em que a gente achava que ia se afogar, conti meu desespero para ver se via algum navio. Me afastei e tentei boiar como as Pessoas Atrofiadas. Muitos de nós vieram atrás de mim, me agarraram, tentaram me afogar, bebi muita água. Então voltei a me enganchar com os outros, matamos mais alguns e eu boiei sobre mais um corpo morto.

3 comentários:

Anônimo disse...

... E quando você acordou - estava todo suado! rss...

Anônimo disse...

... E quando você acordou - estava toda suada! rss...

Claudia Ka disse...

A vida não se resume em sangue, suor e lágrimas mesmo ?