Certa vez, resolvi dar nome a 10 clips que eu tinha: Gilberto, Emília, Jofre, Aristides, Napoleão, Cíntia, Rodolfo, Maria Eduarda, Rebeca e Claudinei. Separei para todos tarefas de juntar papéis de maior ou menor importância.
Só que eu precisava usar estes papéis com constância, e destacar os clips de suas funções para ler o que havia escrito em folhas avulsas. E colocava o clipe do determinado documento sobre a mesa. E, pelo volume de papéis que iam se acumulando, o clipe caía atrás da mesa.
"Vou resgatar o meu clipe. Afinal, ele tem um nome."
E lá ia eu afastar a mesa, ficar de gatinhas, usar uma lanterna para resgatar a Emília, ou o Jofre, ou a Cíntia.
Mas parece que os meus clips achavam bonito escorregar para trás da escrivaninha, ou, como alternativa, ir para trás do armário.
"Todos têm nomes e são funcionais", pensava eu, e logo ia resgatá-los.
Fiz isso inúmeras vezes, em prol do nome que cada um tinha. E, quanto mais os resgatava, mais eles resolviam se esconder nestes locais inertes e escuros.
"O que fazer?", pensei eu, já com certas dores no corpo e os joelhos um pouco esfolados.
Resolvi então chamar todos os clips de Zé.
Mas os Zés continuavam a querer escapar do trabalho atrás da escrivaninha ou do armário.
"Chamam-se Zé, não devo me preocupar com eles."
E, assim, depois que todos sumiram, comprei uma caixa nova de clips. E até esqueci que o nome de todos os clips era Zé. Talvez se eu resolver afastar a mesa ou olhar atrás do armário eles estejam lá, inertes e desnomeados.
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